A depressão endógena é uma perturbação bioquímica, de natureza orgânica e com
forte correlação hereditária, contudo é importante diferenciar esta da depressão.
Tem-se vindo a falar em larga escala de uma das doenças mentais mais proeminentes
na nossa sociedade actual. A depressão, segundo dados estatísticos do ano 2015 da
Organização Mundial de Saúde (OMS, 2017) é uma patologia que acomete cerca de
322 milhões de pessoas no mundo inteiro.
A nível nacional, o “Estudo Epidemiológico Nacional de Saúde Mental. 1o relatório”
(2013), estimou que a depressão é identificada como a segunda patologia mais
comum, dentro do grupo das doenças mentais.

O que é a Depressão?
A depressão é um quadro caracterizado pelo humor marcadamente triste, sentimentos
de vazio e/ou perda de sentimento de prazer nas actividades que o indivíduo antes
considerava agradáveis ou prazerosas. É importante, quando falamos em depressão,
que a mesma não seja confundida com os sentimentos de tristeza, decorrentes de uma
situação de crise ou perda, de carácter temporário ou que não figurem razão de
diminuição de capacidade e bem-estar subjectivos nas diversas áreas da pessoa.
Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Perturbações Mentais DSM-5 (2014), os
critérios para diagnóstico de Perturbação Depressiva incluem a presença de 5 ou mais
sintomas, durante o período de 2 semanas, em que se reconheça alterações
comportamentais ou no funcionamento do indivíduo. São estes:
- Humor marcadamente deprimido (quase todos os dias);
- Diminuição acentuada do interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades
(quase todos os dias);
- Alterações bruscas no peso (redução ou aumento do apetite quase todos os dias);
- Alterações no sono (sonolência ou insónias quase todos os dias);
- Alterações no comportamento motor como lentificação ou agitação quase todos os
dias (observáveis por outras pessoas);
- Fadiga ou perda de energia (quase todos os dias);
- Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva e/ou desajustada;
- Capacidade diminuída de pensamento ou atenção (quase todos os dias);
- Pensamentos recorrentes da morte (não apenas medo de morrer), ideação suicida
frequente, ou, uma tentativa de suicídio sem um plano específico ou plano específico
para comportamento suicida.

Então qual é a diferença entre depressão e a depressão endógena?
Tendo em conta alguns conceitos sobre depressão, identifica-se no âmbito da tipologia
de uma depressão, se esta é: endógena ou exógena.
A depressão exógena ou reactiva é o tipo de depressão a que estamos mais
familiarizados, sendo por isso, mais fácil de identificar e perceber. Instala-se na
sequência de um evento emocionalmente traumático, não processado de forma
adaptativa e que, se mantém por algum período de tempo.
A depressão endógena é uma perturbação bioquímica, de natureza orgânica e com
forte correlação hereditária, ou seja, ela não é melhor explicada por nenhum
acontecimento que possa ter levado ao seu desencadeamento. Este tipo de depressão
é explicado pelo desequilíbrio ou alteração na estrutura bioquímica do cérebro.
O que acontece no nosso organismo?
Sabemos que a bioquímica do corpo humano é bastante complexa, e existem
inúmeros compostos orgânicos que nela intervêm, e que são responsáveis pelo melhor
ou pelo menos bom funcionamento das nossas funções, como por exemplo: enzimas,
hormonas, proteínas, neurotransmissores, entre outros.
No caso de uma depressão endógena, existe uma quebra de produção e manutenção
dos níveis normais dos neurotransmissores de serotonina que, por sua vez influencia,
as cadeias de catecolaminas (epinefrina, noradrenalina e dopamina).
Todos estes compostos, influenciam directamente a regulação dos estados de humor e
sensações de bem-estar e felicidade. Então, quando o nosso organismo deixa de
produzir eficazmente estes compostos, instala-se uma depressão endógena.
Por exemplo, quando o nosso corpo tem uma carência de cálcio, existe um aumento
da vulnerabilidade da nossa densidade óssea. No caso, quando temos carência dos
neurotransmissores acima referidos, ficamos mais propensos a desenvolver esta
patologia.

Sintomas da depressão endógena
A sintomatologia da depressão endógena é bastante similar ao quadro depressivo de
uma depressão exógena (reactiva), contudo detém maior ênfase nos sintomas do foro
das funções vitais (sono, apetite, comportamento) e denota-se também uma maior
intensidade nos sintomas, a tristeza é mais intensa e desproporcional, comumente
acompanhada de anedonia acentuada (incapacidade de sentir prazer ou alegria). Da
mesma forma, o individuo não consegue sequer reconhecer e reagir positivamente a
acontecimentos aprazíveis.
Diagnóstico
Este tipo de depressão só deverá ser diagnosticado por profissionais qualificados da
área da saúde e com competências para o fazer. O ideal será sempre uma articulação
próxima entre as áreas da psiquiatria e da psicologia.
Tratamento da depressão endógena
Apesar deste tipo de depressão ter sintomatologia mais intensa e um cariz mais
crónico e recorrente, o tratamento dela tem bons resultados. Uma vez que a falha de
produção é de carácter orgânico, o recurso a tratamento medicamentoso é essencial, a
fim de repor e manter, os níveis de neurotransmissores no funcionamento cerebral.
Associado a isto, um acompanhamento psicoterapêutico mostra-se também, bastante
pertinente para saber reconhecer padrões e prever recaídas. Complementando assim,
o tratamento farmacológico e restabelecendo o equilíbrio global do indivíduo.
É importante salientar que, a toma de medicação para qualquer problemática
relacionada com depressão, deve ser devidamente acompanhada pelo médico e que
não se deve fazer o “auto-ajuste” (tomar menos ou deixar de tomar porque se sente
melhor) ou a auto-administração destes fármacos, pois existe um elevado risco de
recaída súbita, levando muitas vezes a uma intensificação do quadro depressivo.
A depressão, seja ela de que tipo for, faz-nos sentir tristes, incompreendidos e
extremamente sozinhos mas, ela tem cura.
Os profissionais de saúde estão aqui para si, para o/a acompanhar.
Procure ajuda. Não tem de passar por isto sozinho/a. Nós estamos por aqui.
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